sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Rumo ao inimaginável

Ensaio fotográfico com Natália Agra
 
 
Não sei o que há depois do meu ponto de partida, mas abro mão da despedida sem saber se vou voltar.

Rumo ao inimaginável!

domingo, 27 de novembro de 2011

Beleza Vã (Américo Cavalcante)


[...] Liguei a televisão automaticamente, como todos que buscam esquecer os anseios com qualquer porcaria do horário nobre, e lá estava ela, num quarto de hotel luxuoso em algum lugar da Europa, borrifando uma nova fragrância de grife em frente ao espelho de uma penteadeira imponente.

Uma beleza onírica! Seu olhar era hipnotizante, seu corpo movimentava-se em passos milimetricamente coreografados para seduzir. Trinta segundos de atuação e uma pequena fortuna em sua conta.

“Felizmente aquele vestido de alta costura escondeu os nossos problemas”, pensei.

O jantar ficou pronto. Levei um prato até o quarto e tentei fazê-la comer um pouco.

Enquanto ela brincava com o garfo e esperava que eu saísse para jogar a comida fora, pude observar sua beleza onírica sem o glamour dos holofotes.

Uma beleza vã!

  

domingo, 2 de outubro de 2011

O sincronismo diário da labuta (Américo Cavalcante)



O despertador do celular tocou pela terceira vez quando ele tomou coragem e, entre resmungos, levantou da cama. Sua noite de sono foi comprometida pelo casal do apartamento ao lado, que não parava de discutir pelos mesmos motivos da noite anterior, da anterior e da anterior. Ele não agüentava mais ser testemunha das brigas daquele relacionamento falido, mas era calmo demais para fazer qualquer reclamação, então apenas deixou o sono vencer os berros e quando finalmente adormeceu, precisou acordar.

No chuveiro ele tentou em vão lavar com água fria o sono acumulado. Devidamente vestido e perfumado, tomou o ônibus e fez o percurso de sempre, observando a movimentação nas ruas, “o sincronismo diário da labuta”, como costumava dizer. Soava inteligente.

“Veja o que os homens fizeram a eles mesmos...”, comentou. Quantas interpretações caberiam naquela frase incompleta? A correta estava explícita em seus olhos cansados.

Desceu um ponto antes, como o de costume, para fazer sua aposta semanal na loteria do bairro e depois seguiu a pé até o mercadinho, onde limpou o chão, as prateleiras... e os sanitários, repetidas vezes até seu turno acabar.

No caminho de volta ele observou o movimento inverso ao daquela manhã e sentiu seu coração encolher de angustia. Lojas fechando, pessoas aglomeradas nos pontos de ônibus, em lotações, bicicletas e a pé. O ciclo vicioso e sofrido que ele abominava. 

“Se eu ganhasse aquele prêmio não teria mais que passar por isso!”, disse ao ser imprensado contra a cadeira do coletivo.

Em casa viu o capítulo da novela das 21h enquanto comia macarrão instantâneo e pensava em como seria bom saber cozinhar, ou melhor, ter alguém que cozinhasse para ele. Ajustou o despertador do celular para tocar mais cedo. Não podia se dar ao luxo de acordar atrasado como naquela manhã.

A parede fina do apartamento, os vizinhos, mais uma noite de sono comprometida.

Ele estava exausto e imune ao banho frio. Foi em passos lentos ao ponto, onde pegou o ônibus de sempre, viu a movimentação de sempre, fez os resmungos de sempre e, como sempre, desceu um ponto antes.

Não chegou ao trabalho naquele dia, nem nunca mais. Seu apartamento permaneceu intacto até que, após três meses de aluguel atrasado, o síndico mandou que tirassem suas coisas. 

Ninguém soube o que aconteceu, mas eu, que escutei seus desejos e frustrações por tanto tempo, desconfio.

Pena eu não ter dito que sei cozinhar...

terça-feira, 26 de julho de 2011

Aventurière

Eu e minha irmã, Amanda Albuquerque, criamos o stop motion amador "Aventurière" para suprir o ócio de um feriado em casa.

A bonequinha da Amanda virou personagem de uma aventura embalada pela música "Papa m'aime pas" da cantora pop francesa, Melissa Mars.

Confiram a bagunça que essa danada aprontou!


terça-feira, 14 de junho de 2011

In Natura


“In Natura” é um projeto artístico que, através de efeitos de sobreposição de imagens, busca trazer uma reflexão acerca da consciência ambiental, com fotografias de paisagens naturais fundidas à imagem da modelo Natália Agra, em efeitos que levam o espectador a perceber uma relação harmônica entre humanidade e natureza.

O projeto foi desenvolvido para apresentação na disciplina de “Arte e Tecnologia”, ministrada pelo professor Ronaldo Bispo no curso de Comunicação Social - UFAL, sendo fundamental para o mesmo uma relação direta com os conteúdos abordados em sala.

A idéia de utilizar a sobreposição de imagens veio a partir de uma fotografia que criei em 2010, a qual intitulei “Realidade Freakshow”, inspirada numa música de mesmo nome, da cantora Sabrina Sanm. “Realidade Freakshow”, por sua vez, não é uma idéia original, mas partiu da identificação com a obra “Sobre todas as peles”, de Fernanda Capibaribe, que foi exposta no Centro Cultural Sesi no mesmo ano. 

No caso do projeto “In Natura”, as fotografias de Natália Agra foram tiradas com a câmera de um celular (Motorola EX112, 3.0 Mega Pixels) e manipuladas através do programa Adobe Photoshop CS4, que já uso com grande freqüência para experimentar novas possibilidades de manipulações de imagens. As fotografias de paisagens e demais imagens foram usurpadas do “Santo Google”, o que facilitou bastante a busca por complementos adequados para a criação.  


sexta-feira, 20 de maio de 2011

O fim [de tarde] (Américo Cavalcante)

     
            17h30. Ele estava sentado na grama embaixo de uma árvore, lendo o texto com uma falsa concentração, enquanto o sol se punha espalhando vermelho onde há pouco tempo só havia azul celeste. Seus olhos quase não mexiam, vagando apenas entre a primeira linha no papel e a linha do horizonte, como se o tempo tivesse perdido o ritmo no momento em que ele lembrou as últimas palavras que a ouviu pronunciar:

“Por favor, não!”

        Ele sabia que o fim de um relacionamento não era algo fácil, mas não imaginava o quão difícil seria na prática. Não estava conseguindo esquecer aquelas súplicas que ecoavam em sua mente enquanto tentava ler o maldito texto. Faltava pouco tempo para a prova, mas até o barulho do vento roçando nas folhas da árvore tiravam-lhe a concentração.
            Desde as 16h00 ele estava entre a linha do horizonte e a primeira linha do texto, misturando palavras difusas e borrões vermelhos. Tudo parecia condená-lo, mas ele não podia se arrepender. Mais uma vez ouviu a voz dela ecoar:

“Por favor, não!”

            Inspirou lentamente, tentou apagar a lembrança ao expirar o ar quente. Sua respiração falhava com o tremor do seu corpo. Ele dobrou o papel, colocou-o ao seu lado e tentou refletir sobre o que viveu nos últimos três meses. “O amor é um sentimento confuso que nos rouba o norte. Como saber senti-lo?” Ele já não conseguia discernir seus pensamentos, seus sentimentos. “Afinal, porque tudo se dissipou em tão pouco tempo? Aquela atitude foi precipitada?” Estava tudo acabado e ele não conseguia estudar para a prova. O pouco tempo que restava foi preenchido pela voz dela:

“Por favor, não!”

            Sentiu pena. Um pouco de arrependimento, talvez. Aquele pedido de cortar o coração se repetia cada vez mais alto. A voz dela martelava em sua cabeça. Não conseguiria mesmo fazer a prova. A rejeição que sofreu da mulher que amava ocupou todo o espaço que tinha em mente. Os últimos três meses foram os melhores da sua existência, mas tudo o que restou foi a certeza de que estaria ferrado na prova e teria aquela voz como lembrança eterna da mentira que viveu intensamente.

“Por favor, não!”

            Seu olhar vagou da linha do horizonte, que sumia com os últimos contornos da tarde, para as suas mãos, iluminadas pelo reflexo do crepúsculo. Ele limpou o vermelho dos dedos trêmulos na grama, guardou o texto e, decidindo não fazer a prova, foi embora com o sol.

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