domingo, 27 de novembro de 2011

Beleza Vã (Américo Cavalcante)


[...] Liguei a televisão automaticamente, como todos que buscam esquecer os anseios com qualquer porcaria do horário nobre, e lá estava ela, num quarto de hotel luxuoso em algum lugar da Europa, borrifando uma nova fragrância de grife em frente ao espelho de uma penteadeira imponente.

Uma beleza onírica! Seu olhar era hipnotizante, seu corpo movimentava-se em passos milimetricamente coreografados para seduzir. Trinta segundos de atuação e uma pequena fortuna em sua conta.

“Felizmente aquele vestido de alta costura escondeu os nossos problemas”, pensei.

O jantar ficou pronto. Levei um prato até o quarto e tentei fazê-la comer um pouco.

Enquanto ela brincava com o garfo e esperava que eu saísse para jogar a comida fora, pude observar sua beleza onírica sem o glamour dos holofotes.

Uma beleza vã!